Amigo é coisa pra se guardar
“Desde filhote, sempre me virei pelas ruas, sozinho. Mas, em um dia de muita chuva e frio, procurei abrigo em uma casa da vizinhança. Fui entrando sem ser convidado e só depois descobri que, naquela noite, tinha tomado a melhor decisão da minha vida. Meus pais, que já têm bastante idade, não estavam planejando adotar um animal, embora gostem muito de bicho. Mas como eles têm um coração enorme, não pensaram duas vezes antes de me acolher e cuidar de mim. Me deram abrigo comida e carinho. Depois, tentaram me doar. Como sou vira-lata, ninguém queria ficar comigo. E, a essa altura,o vínculo entre meus pais e eu já havia se formado. Então, eles não tinham mais coragem de me colocar na rua de novo. Fiquei, para sempre, me chamaram Bilu e, desde então, tenho sido um bichinho fiel, não desgrudo do meu pai nem quando ele precisa fazer as tarefas do lar. Fico grudado nele o tempo todo! Também tiro acerolas do pé e adoro presenteá-lo com baratas enormes quando está calor. Quando ele está a meio quarteirão de casa, já começo a miar, avisando a minha mãe de que o meu pai está se aproximando. Sei tanto sobre ele que conheço até os remédios que toma. Certa noite, meu pai estava com uma dor de cabeça muito forte e foi até o armário na intenção de tomar dipirona. Pelo menos foi isso o que ele falou antes de começar a mexer na caixa de remédios. Pegou o frasco e o copo com água e contou as gotinhas, até chegar no 35. E foi ai que eu descobri que aquele não era o remédio de dor de cabeça e sim o colírio que ele costumava usar nos olhos. O rótulo era bem diferente, mas meu pai parecia não notar. Como não falamos a mesma língua, eu subi rapidamente no armário e parei na frente do remédio, olhando fixamente para o meu pai, com esperança de que ele entendesse que algo estava errado. Não costumo escalar aquele móvel, então, meu pai estranhou. De repente, teve um estalo: percebeu que tinha colocado um medicamente impróprio na água de beber. Ufa! Foi uma das piores situações que eu passei na vida! Depois disso, meu pai começou a prestar mais atenção ainda na própria saúde e nos remédios que toma em casa. Naquele dia, me agradeceu muito, me encheu de afagos e petiscos. Mas nem precisava! Eu só estava retribuindo, afinal, um dia, há três anos, ele também tinha sido o principal responsável por salvar a minha vida. E olha, vou contar só para vocês: não tenho sete vidas, não! Tenho uma só e tomo conta dela, tanto quanto zelo pela vida das pessoas que mais amo no mundo.”