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Amizade Gato Coelho 01

Pai é quem cria

“O ano era 2009. Em uma tarde de frio, após uma tempestade, eu vi uma luz na minha direção. Tinha certeza que era do paraíso dos gatos, para onde vão todos os felinos bons, como eu, depois da morte. Pensei que eu estava morrendo, depois de ser chutado de um lado para o outro, como bola de futebol, por uns garotos. Mas não, era uma mini-humana abrindo caminho entre os meninos para me salvar. Ela se chamava Vitória e eu tinha apenas dois meses. A Vitória saiu me oferecendo pelo condomínio onde morava, já que a mãe dela não me quis. Estava anoitecendo quando a minha tutora se sensibilizou com a minha história e disse para a Vitória: Ok, traga ele aqui na minha casa. Ela já criava dois gatos bem mais velhos do que eu, por isso, tinha ração, bebedouro e uma caminha pronta para me receber. Cheguei lá todo amarelinho como sou, sujo e disse com o olhar: “Prazer, meu nome é Raji”. O coração dela derreteu na hora. Naquele momento, eu estava realmente machucado: com duas costelas fraturadas e meu rabo quebrado em três lugares. Quero dizer, já cheguei dando prejuízo, mas logo me enturmei com os outros. Fiquei amigo do casal de gatos adultos e mais ainda da Lola, uma coelha. Dormimos muito juntos na palha e ela me ensinou as coisas boas da vida, como comer cenouras, repolho e couve. Foi a primeira mãe que eu tive. Quando ela foi para o paraíso dos coelhos bons, eu fiquei bem triste. Por isso, assim que minha tutora apareceu com três filhotes de gatos, eu saí correndo para conhecê-los, desesperado por algo que me alegrasse. Ela contou que viu quando um carro parou e jogou fora uma caixa de papelão lacrada, que bateu no chão e começou a se mexer. Lá estavam os gatinhos, tão apavorados quanto eu quando fui resgatado pela Vitória. Rapidamente, peguei um deles pelo pescoço – é assim que fazemos com as nossas crias – e o levei para o ninho de palha. Deitei ao lado dele e fiquei ali por horas. Os outros vieram aos poucos e eu apenas os acolhi. Limpava todos eles direitinho – vocês chamam a isso de banho de língua – brincava e zelava pelo sono dos pequeninos. Eu até os defendia das broncas, escondendo-os na estante ou no guarda-roupa. Em uma madrugada, eles começaram a miar alto. Minha tutora se desesperou. Não tive dúvida, deitei de barriga para cima e eles entenderam: encostaram a boca na minha barriga para mamar. Obviamente, eu não dei leite para eles, sou macho, mas eles ficaram lá uma noite inteira, bem calminhos. Isso se repetiu por anos. Viramos uma família: Raji,  Safira, Apolo e Atila. Eu, um pai felino solteiro, os adotei. Assim como uma coelha me adotou no passado. Depois disso, minha tutora virou protetora dos animais e passou a oferecer lar temporário para muitos filhotes abandonados. Eu, é claro, sempre ajudo nos cuidados, acolhendo cada um deles como se fossem meus filhos também.”

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