Um vazio preenchido com amor
Minha mãe conta que eu cheguei na hora certa na vida dela. Ela tinha acabado de perder um filho humano bem no final da gestação, aos nove meses. Uma amiga dela, que sabia que minha mãe estava precisando se distrair, me ofereceu como um presente. Logo que cheguei, eu gostava de ficar nos pés da cama, brincando com os dedos dela. Não preciso dizer que, rapidamente, ela se apaixonou por mim, né? Mas eu não era a única moradora da casa. Também tinha dois cachorros: o Yuri, que me adorava, e o Gugu, que não gostava tanto assim de mim. Um dia, eu fui passear de madrugada pela casa e o Gugu me pegou. Nem acho que foi por mal, mas, como ele era muito grande, me machucou feio. Foram quase quatro meses para eu me recuperar totalmente. Minha mãe ficou desesperada, na época, achando que eu não ia aguentar. Mas gato tem sete vida e eu sobrevivi para contar essa história . A parte boa é que, ao se preocupar comigo ,minha mãe conseguiu parar de pensar um pouco no Heitor, o filho humano que ela perdeu. Agora que estou refeita, eu amo correr pela casa com a minha bola na boca. Também gosto de brincar no jardim e olhar por debaixo do portão, para ver o movimento da rua. Eu sou castrada e não saio de casa. Minha mãe diz que, na vizinhança, podem me maltratar e eu acredito – mas não nego que tenho vontade de sair por esse mundão a fora! A verdade é que, hoje em dia, eu sou a princesa da casa. Eles até me levam para passear de carro! O quarto que era para ser do Heitor agora é meu. E, se ele pudesse me ver, saberia que eu estou cuidando direitinho da nossa família, com todo amor do mundo.