Unidos contra a depressão
Eu sou o Xarope e posso me considerar um gato bastante sortudo. Eu moro na praia. E como se isso não fosse legal o suficiente, eu fui tirado das ruas por uma ONG aqui de llha-bela (SP), que ajuda bichos abandonados. Bonito que sou, logo conquistei o coração de uma família com três crianças. Eles brincavam bastante comigo mas, um dia, sumiram do nada. Como eu não sei viver sem carinho, comecei a buscar novos humanos para cuidar de mim. E veja só, no mesmo quintal eu encontrei outra casa com umas pessoas bem legais. Elas me deram comida, água e aquele cafuné gostoso. Não preciso nem dizer que escolhi viver com eles, né?
Logo ganhei um irmão, o Simba, felino bacana. A gente se tornou inseparável – quer dizer, quando ele não estava na rua, dando umas voltinhas. Aquele gostava de passear, viu! E tudo ia bem até que meu pesadelo mais terrível se tornou realidade mais uma vez: minha tutora desapareceu. Pensei: “Não é possível, a gente até dormia juntos” Demorei, mas descobri que, na verdade, ela não tinha me abandonado, como a minha primeira família fez. Ela estava em um hospital e, claro, tinha deixado gente para cuidar de mim. Mas não era a mesma coisa, sabe? O Simba, meu companheiro, com a ausência da nossa humana preferida, passou a ficar mais tempo fora de casa. E o pior aconteceu. Ele foi atropelado e não sobreviveu. Foi tão triste para mim! Sem meu parceiro e sem minha tutora, entrei em uma onda de baixo astral daquelas! Não queria comer, meus lindos pelos começaram a cair e eu só tinha vontade de ficar deitado. Entre um cochilo e outro, percebi que tinha outra pessoa na casa que estava muito triste também: era a filha da minha tutora. Então, começamos a nos aproximar. A gente decidiu se ajudar. Ela comia e eu tinha vontade de comer. Ela me fazia carinho, eu ronronava um pouco e esquecia a tristeza – e ela também. A partir daí, a vida passou a ser menos sofrida para nós dois, que conseguimos suportar melhor a saudade da nossa mãe – segundo os humanos, essa eternidade durou três meses! No dia em que a minha tutora voltou do hospital, eu fiz o ronrom mais longo de todos. Fiquei feliz mesmo, mas já não tinha como disfarçar que estava apaixonado pela filha dela também, minha parceira nos dias mais difíceis da minha vida de gato. Tanto que acabei me mudando de quarto e hoje, durmo junto com ela. O bom é que meu coração é tipo o da minha mãe humana: sempre cabe mais um.